Ao criar a Psicologia Simbólica Junguiana, minha intenção primordial foi apresentar um paradigma simbólico e arquetípico para a Psicologia profunda, que expressasse a sua grandeza, a protegesse dos inúmeros redutivismos que a reduzem e aprisionam e descrevesse a função simbólica do mal e da morte.
Uma das principais consequências desse processo tem sido a continuação do desenvolvimento da Psicanálise e da Psicologia Analítica, baseada nas obras de Freud, de Winnicott, Klein, de Jung, de Neumann, de Moreno e de Heidegger, dentre outros.
Assim, nos meus livros Psicologia Simbólica Junguiana – A viagem de humanização do cosmos em busca da iluminação (Byington, 2008) e A Viagem do Ser em Busca da Eternidade e do Infinito – As sete etapas arquetípicas da vida pela Psicologia Simbólica Junguiana (Byington, 2013), conceituei o quatérnio primário e procurei descrever as relações primárias e a formação da Sombra.
Continuei essa descrição na adolescência e na vida adulta até a vivência da morte enraizada no referencial do processo de individuação descrito por Jung. Ampliando a associação de Neumann dos Arquétipos Matriarcal e Patriarcal aos mitos na história da consciência, inclui nesses arquétipos o feminino e o masculino e acrescentei a eles o Arquétipo da Alteridade, para descrever uma teoria mitológica da história propriamente dita, que torna inseparáveis as dimensões individual e cultural, seguida pelo Arquétipo da Totalidade.
Ao ensinar a Psicologia Simbólica Junguiana nestes últimos anos, observei que a cisão entre a escola junguiana e freudiana dificulta compreender quanto elas têm em comum, principalmente pelo fato de os seguidores de uma escola desconhecerem a teoria da outra. Além disso, observo que alguns conceitos de Jung estão sendo automaticamente repetidos sem a devida elaboração e atualização.
Durante meus cursos, noto que muitos junguianos não compreendem minhas propostas por não perceberem exatamente onde elas buscam integrar conceitos de psicanálise como fixação e defesa na formação da Sombra e, ao mesmo tempo, modificar a Psicologia Analítica para evitar a redução do Arquétipo Matriarcal e da Anima ao feminino e do Patriarcal e do Animus ao masculino.
Por isso, acredito que a descrição específica de vinte e seis diferenças entre a Psicologia Analítica e a Psicologia Simbólica Junguiana seja um começo para esclarecer conceitos e propostas teóricas de cada uma.
Quero enfatizar que considero estes conceitos não algo simplesmente diferente da Psicologia Analítica, mas um desenvolvimento desta, coerente com a criatividade e o espírito científico de Jung.
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A Primeira Diferença
A primeira diferença se refere à natureza da Psique. Seguindo o misticismo hindu e a Fenomenologia de Heidegger, a Psicologia Simbólica Junguiana considera o conceito de Psique análogo ao de Atman (Índia) e ao de Ser (Heidegger), que englobam o subjetivo e o objetivo, o dentro e o fora. Nesse sentido, o conceito de Psique é igual ao conceito de Cosmos e de Deus.
Jung formulou os conceitos de psicoide, de sincronicidade e de “unus mundus”, para reunir o subjetivo com o objetivo, mas em muitos aspectos manteve a psique separada do objetivo, principalmente ao considerar a polaridade psique-matéria.
A Segunda Diferença
A segunda diferença é que a Sombra e seus complexos são formados à partir dos conceitos de fixação e de defesas de Freud, desde o início da formação da identidade do Ego e do Outro.
A Terceira Diferença
A terceira diferença é que tudo na psique é simbólico e arquetípico e é expresso por funções que os tornam símbolos e funções estruturantes da psique.
A Quarta Diferença
A quarta diferença é que as funções estruturantes normais, quando fixadas se tornam as funções estruturantes defensivas. Assim sendo, símbolos e funções estruturantes fixados são as características da Sombra e de toda a psicopatologia profunda.
A Quinta Diferença
A quinta diferença é que existe uma grande separação conceitual entre a Sombra e o inconsciente, pois a Sombra e seus complexos podem ser conscientes e inconscientes. Por conseguinte, o inconsciente pode ser normal ou patológico quando sofre fixações e forma defesas.
A Sexta Diferença
A sexta diferença é que a Persona é uma função estruturante da maior importância para a formação da identidade do Ego e do Outro e quando fixada, forma a defesa normopática psicopática.
A Sétima Diferença
A sétima grande diferença é a descrição e a ênfase dadas por Jung à diferença entre um inconsciente pessoal não arquetípico e um inconsciente coletivo arquetípico.
Para a Psicologia Simbólica Junguiana, essa diferença não existe, porque todos os símbolos e funções estruturantes que formam a identidade do Ego e do Outro, são também arquetípicos.
O que existe é a diferença entre a dimensão pessoal e a coletiva, ambas sempre arquetípicas. Existirão, porventura, símbolos mais arquetípicos que os símbolos pessoais do pai, da mãe e da criança?
Pode-se imaginar algum indivíduo ou cultura que não tenha as funções da projeção, da introjeção e da repressão, seja na dimensão individual, seja na dimensão coletiva?
Isso não demonstra que todas as funções estruturantes são sempre, também, arquetípicas?
A Oitava Diferença
A oitava diferença é que tudo na Psique é simbólico e arquetípico e engloba todas as polaridades, inclusive subjetivo e objetivo.
Nesse caso, não existem as polaridades psique-matéria e psicossomática, porque a Psique inclui a polaridade mente-matéria e mente-corpo dentro da dimensão simbólica e arquetípica.
A Nona Diferença
A nona diferença está no desdobramento do conceito de Self da Psicologia Analítica para evitar uma grande ambiguidade entre o real e o virtual.
A Psicologia Simbólica Junguiana emprega Self para descrever a totalidade da Psique real incluindo o Ego, a Sombra, o consciente e o inconsciente, os símbolos e arquétipos.
Desta maneira, ela diferencia o conceito de Self do Arquétipo Central, equivalente ao DNA e considerado virtual e responsável pelo potencial do desenvolvimento psíquico.
A Décima Diferença
A décima diferença é que o Arquétipo Central engloba todas as polaridades das funções estruturantes, inclusive vida-morte, normal-patológico, bem-mal, Eros-poder, masculino-feminino.
A Décima Primeira Diferença
A décima primeira diferença é que Jung reduziu o Self e o processo de individuação principalmente ao indivíduo e eu apliquei o conceito de Self e de Arquétipo Central para englobar, também, as dimensões transindividuais do Self, em todas as situações existenciais.
Postulei assim, que o Arquétipo Central forma um sistema de desenvolvimento arquetípico para qualquer conjunto de vivências.
Concebo, então, a existência do Self Conjugal, Self Familiar, Self Cultural, Self Planetário e Self Cósmico, assim como Self Terapêutico, Self Pedagógico e muitas outras formas do Self.
Isto é diferente do conceito de Self corporal de Neumann, pois somente emprego o conceito de Self para representar a vivência de totalidade e em nenhuma hipótese para me referir somente a uma parte.
A Décima Segunda Diferença
A décima segunda diferença é que a Psicologia Simbólica Junguiana situa a polaridade Ego-Outro no centro da consciência e da Sombra e não exclusivamente o complexo do Ego, como fez Jung.
Assim sendo, concebo a formação da identidade do Outro paralelamente à formação da identidade do Ego por intermédio da elaboração dos mesmos símbolos, funções estruturantes e arquétipos.
A Décima Terceira Diferença
A décima terceira diferença é que tudo na psique é arquetípico e os arquétipos são expressos por símbolos e funções estruturantes.
Estes podem ser expressos por imagens, como na Psicologia Analítica, mas também por palavras, sons, conceitos, emoções, partes do corpo, fenômenos sociais e ecológicos, a conduta e até mesmo o silêncio.
A Décima Quarta Diferença
A décima quarta é que a elaboração simbólica é coordenada prioritariamente por um quatérnio arquetípico regente que opera à volta do Arquétipo Central.
Este quatérnio é formado pelos Arquétipos Matriarcal, Patriarcal, de Alteridade e de Totalidade. O
Arquétipo da Alteridade engloba os Arquétipos da Anima e do Animus.
A Décima Quinta Diferença
A décima quinta diferença é que o Arquétipo Matriarcal é o arquétipo da sensualidade, que também engloba o masculino além do feminino.
O Arquétipo Patriarcal é o arquétipo da organização e também engloba tanto o feminino quanto o masculino.
Assim, os Arquétipos Matriarcal e Patriarcal estão igualmente presentes na personalidade do homem, da mulher e nas dimensões transindividuais do Self.
Da mesma maneira, o Arquétipo da Anima na personalidade do homem e do Animus na personalidade da mulher não são arquétipos exclusivamente do feminino e do masculino e sim arquétipos da individualidade profunda.
Suas expressões tanto podem ser por imagens femininas da Anima e masculinas do Animus, como também representar símbolos da busca religiosa, política, científica, artística ou de qualquer outro grande desafio ou chamado para a realização do Ser, no processo de individuação.
A Décima Sexta Diferença
A décima sexta diferença é que lado a lado com os tipos psicológicos da Consciência, descritos por Jung, configuro quatro dominâncias tipológicas representadas por cada um dos quatro arquétipos regentes (Matriarcal, Patriarcal, de Alteridade e de
Totalidade).
A Décima Sétima Diferença
A décima sétima diferença é a concepção do Quatérnio Primário formado pelo Complexo Materno, pelo Complexo Paterno, pelo vínculo entre eles e pelas reações do Ego.
O estudo das relações de sincronicidade entre essas quatro vertentes permitem revelar a formação única e misteriosa da identidade do Ego e do Outro em cada pessoa até a puberdade.
A Décima Oitava Diferença
A décima oitava diferença é que a polaridade Ego-Outro apresenta cinco posições diferentes que são as cinco inteligências arquetípicas do Ser.
Elas acompanham sequencialmente o processo de elaboração simbólica. A primeira é a posição indiferenciada ou urobórica, que corresponde ao Arquétipo Central.
A segunda é a posição insular (ilha) do Arquétipo Matriarcal. A terceira é a posição polarizada do Arquétipo Patriarcal. A quarta é a posição dialética do Arquétipo da Alteridade (Anima e Animus) e a quinta é a posição contemplativa do Arquétipo da Totalidade.
A Décima Nona Diferença
A décima nona diferença que caracteriza a Psicologia Simbólica Junguiana é a adoção do conceito de fixação da Psicanálise para a configuração da passagem da função estruturante normal para a função estruturante defensiva e que, por isso, se torna o denominador comum de toda a psicopatologia e a origem da Sombra.
A fixação é acompanhada da pela presença da inadequação existencial, da defesa, da compulsão de repetição, e da resistência defensiva descritas por Freud e presentes em toda a patologia.
Esta conceituação é especialmente útil no estudo da depressão, da possessão e da ansiedade, como funções normais e patológicas, evitando sua redução atual pela patologização.
Nesse caso, o tratamento da depressão, da ansiedade e da possessão patológicas não deve visar sua eliminação e sim o resgate de sua atuação normal para elaborar os símbolos que veiculam.
A Vigésima Diferença
A vigésima diferença é a conceituação da Sombra formada por fixações da elaboração simbólica nos quadros clínicos (Psiquiatria e Psicologia), no crime (Direito), no pecado (Religião), na exaustão das reservas ou na destruição do meio ambiente (Ecologia), na exploração e na miséria (Socioeconomia), no erro na Ciência e no Mal (Filosofia).
A Sombra pode ser circunstancial ou cronificada. Nesta perspectiva, diferentemente da Psicologia Analítica (Aion), a Sombra é formada tanto por símbolos do mesmo gênero quanto do gênero oposto do Ego.
As fixações e a formação da Sombra com símbolos preciosos para o desenvolvimento fazem com que o resgate dos símbolos da Sombra, seja indispensável ao processo de individuação. Por isso, o fato de ter Sombra leva o ser humano a uma tensão permanente na busca de integrar o seu conteúdo.
Esta é a explicação da existência da compulsão de repetição e para a afirmação esotérica de que Deus (o Arquétipo Central) persegue aqueles a quem ama.
A Vigésima Primeira Diferença
A vigésima primeira característica que diferencia a Psicologia Simbólica Junguiana da Psicologia Analítica é o agrupamento de toda a psicopatologia em quatro estratégias patológicas que são: a neurótica, a psicopática, a borderline e a psicótica, e que se diferenciam pela relação ego-outro na Consciência e na Sombra (Psicopatologia Simbólica Junguiana).
Na estratégia neurótica, a Sombra se expressa inconscientemente e sua atuação traz culpa e arrependimento.
Na estratégia psicopática, a fixação absorve as funções estruturantes da vontade e da ética e a Sombra é expressa também conscientemente. Por isso, trata-se da conduta sociopática, dolosa e sem culpa.
Quando a defesa psicopática toma conta de uma grande parte do Self, temos a personalidade psicopática encontrada nos serial-killers e nos perversos.
Na estratégia borderline, observamos uma grande criatividade nas defesas, que podem atuar de formas bizarras e psicopática para evitar a psicose.
Finalmente, na estratégia psicótica, a Sombra invade a Consciência que, uma vez dominada, se torna inimputável.
A Vigésima Segunda Diferença
A vigésima segunda característica da Psicologia Simbólica Junguiana é o conceito da função estruturante da supraconsciência, que percebe e elabora a relação da Consciência e da Sombra.
A Vigésima Terceira Diferença
A vigésima terceira característica da Psicologia Simbólica Junguiana é a conceituação das sete fases arquetípicas da vida, em função de dominâncias arquetípicas, que são a fase da gestação, da primeira infância (0-2 anos), da segunda infância (de 2 a 12 anos), da adolescência (de 12 a 20 anos), da fase adulta (de 20 a 40 anos), da maturidade (de 40 a 60 anos) e a sétima e última fase (além dos 60 anos) que elabora a transcendência da morte do corpo físico.
A Vigésima Quarta Diferença
A vigésima quarta diferença da Psicologia Simbólica Junguiana e da Psicologia Analítica é a metanoia como uma etapa de dominância arquetípica e que, por isso, concebe cinco metanoias e não uma como faz a Psicologia Analítica.
A primeira é a constelação do Arquétipo Patriarcal e seu conflito com o Matriarcal a partir dos dois anos de idade.
A segunda é a passagem da fase passiva para a fase ativa dos Arquétipos
Matriarcal e Patriarcal na personalidade dos jovens durante a crise da adolescência.
A terceira metanoia é a vivência dos Arquétipos Patriarcal e Matriarcal na posição ativa na profissão, no casamento e na formação da nova família.
A quarta metanoia é a ativação dos Arquétipos da Anima, do Animus e da Alteridade descritas na metanoia da Psicologia Analítica.
A quinta metanoia é a dominância do Arquétipo da Totalidade no final da vida e na transcendência da morte do corpo físico pela meditação para a vivência do infinito, da eternidade e da paz.
A Vigésima Quinta Diferença
A vigésima quinta diferença é a elaboração simbólica da Consciência e a Sombra pelas técnicas expressivas, principalmente pela meditação e regressão (divã).
A Vigésima Sexta Diferença
A vigésima sexta diferença é a teoria arquetípica da história que reúne o desenvolvimento individual e histórico da humanidade, ampliando a abordagem de Erich Neumann, com os Arquétipos da Alteridade e da Totalidade dentro da realidade histórica.
Apesar dessas diferenças, denominei esta nova disciplina de Psicologia Simbólica Junguiana, por ter sido Jung quem descreveu a busca arquetípica da totalidade do desenvolvimento da consciência, no processo de individuação.